Saturday, July 23, 2011

A droga da menina imperfeita - capítulo 3

Eu e o Miguel durou três anos, dos meus quatorze até os meus dezessete, desperdicei os meus "anos dourados" com aquele infeliz que acabou com a minha vida. E quando eu digo que acabou, eu não exagero nenhum pouco. Por causa dele eu saí de casa. Lembro direitinho, da minha mãe chorando na porta do meu quarto, enquanto eu arrumava minhas roupas em uma mala de couro velha, ela suplicava baixinho pra eu não fazer aquilo, eu mandei ela calar a boca e continuei pondo as coisas na mala. Meu pai, estava na sala, lendo seu jornal e eu acredito que ele se sentia aliviado por isso, meus irmãos estavam no quarto jogando vídeo-game, passei por lá e disse tchau. Naquela hora meus olhos inundaram de lágrimas. E eles apenas disseram: tchau, sem nenhuma emoção. Eu dei os ombros e saí.
Eu resolvi sair de casa porque eu queria viver pro Miguel, estava cansada daquele povo chorando pelos cantos preocupados se eu ia ou não acordar viva. Eu queria minha total independência.
 Minha mãe achava drogas nos bolsos das minhas calsas e entrava pra dentro do quarto pra chorar, meus irmãos cuidavam de mim quando eu chegava em casa bêbada e machucada. Meu pai ficava no canto dele, mas sei que ele sofria.
Cheguei na casa do miguel, com uma cara de choro, os olhos borrados de lápis preto e a roupa rasgada e suja. Ele que já tinha saído de casa, morava numa meia água feia e suja, mas nada disso importava, não naquele momento. Ele mandou eu entrar, me ofereceu um cigarro e não quis nem saber o que me levava até ali.
Ele foi ficando cada vez mais cruel, violento, saía de casa e voltava dois dias depois, sujo, magro e estranho. Eu entrava em desespero e cuidava dele até ele melhorar, mas depois tudo se repetia. Agente tinha saído da escola um ano antes e vivia das drogas que ele vendia, de alguns furtos e dos programas que ele me obrigava a fazer. Sim, eu cheguei a esse ponto. Eu realmente não me lembro muito bem daquela época, pois eu fazia tudo sobre o efeito da cocaína, não sei como não peguei uma doença, talvez realmente exista um Deus misericordioso, que olhava por mim.
Nosso relacionamento acabou quando eu cheguei da rua, tinha ido fazer programa pra sustentar aquele idiota, cheguei cansada e bêbada, mas lembro direitinho do que vi: ele a Jussara deitados na minha cama.
Não sei como ela foi parar ali, só sei que quando ela me viu, ela se enrolou nos meus lençóis e me olhou com a cara mais lavada do mundo.
Ele não fez nada, nem disse uma daquelas frases clichês "não é nada disso que você está pensando", ou então "eu posso explicar", só continuou a beijar aquela vadia, naquele momento todo o meu sangue ferveu. Eu lembro que bati muito nela e dei um soco no estômago dele, ambos riam de mim. 
Peguei minhas poucas coisas, roubei toda a droga que tinha ali e saí. Parei numa boca de fumo, de um chegado meu e vendi tudinho, com o dinheiro que deu, dava pra eu viajar pra algum lugar.
Se eu pensei em voltar pra casa? Claro. Só que eu senti vergonha do que eu era, e achei que se eu voltasse, eu arruinaria a minha casa novamente.
Andei por alguns minutos até chegar na rodoviária, perguntei pra um guardinha a que horas o ônibus saía pro Rio de Janeiro, ele respondeu com má vontade que as sete. Dormi por ali mesmo, sentada em um banco duro de uma rodoviária que cheirava merda, passei muito frio. No outro dia cedo, o guarda me acordou com uma cara desconfiada e disse que o ônibus partiria em dez minutos.
Fui ao banheiro, lavei o rosto, comprei a passagem, notei que ainda me restava uns trocados e me senti aliviada, entrei pra dentro do ônibus, sentei ao lado de uma velha rechonchuda que carregava um monte de biscoitos e parti.

Isabela Teodoro



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