Ele abriu a porta com um sorrisinho de meia boca que queria dizer "olha, eu não queria que você estivesse aqui, então vamos acabar logo com isso". Eu disse oi e entrei.
A casa dele era pequena, apertada, escura, totalmente diferente da minha, por vários momentos me faltou ar. Ele me guiou até o seu quarto, eu sentei na cama desarrumada que ficava ao lado de um bando de posters esquisitos, ele tirou a camisa, ficou só de bermuda, bagunçou o cabelo e sentou bem, mas bem, perto de mim.
Cada pedaço do meu corpo tremeu.
Ele disse pra agente começar a fazer aquilo logo e eu respondi que sim com a cabeça, pegando meu caderno dentro da bolsa e começando a explicar o que faríamos.
Enquanto eu falava, ele olhava pras minhas pernas e eu me amaldiçoei por ter ido de shorts, pensei que ele estava me achando gorda, e quis ir até o banheiro meter o dedo na garanta e vomitar. Mas ignorei e não parei de falar por um momento, não me lembro muito bem o que ele fez, só sei que ele conseguiu calar a minha boca e me fazer olhar fixamente para aqueles olhos cor de mel sem piedade. Aí ele soltou:
- Você até que é gostosinha, que tal agente se divertir um pouco ao invés de estudar?
Não sei o que eu disse exatamente, só sei que o meu rosto queimou, ele então passou aquelas mãos macias nas minhas pernas e começou a beijar o glóbulo da minha orelha devagar, e eu sem saber o que fazer fiquei parada, deixando ele me conduzir pra onde ele quisesse.
Ele me deitou na cama e colou o seu corpo sobre o meu, fiquei impressionada, com o tanto que o corpo dele era quente e suave, ele começou a desabotoar os botões da minha camisa e beijou o meu pescoço.
Num salto eu me despertei e afastei ele do meu corpo e levantei abotoando a minha camiseta, lembro que era uma jeans que eu tinha ganhado no natal passado, e saí correndo dali.
No caminho eu me detestava, não sei se era por raiva de permitir que ele fizesse o que fez, ou por não ter deixado ele continuar, eu sentia que o cheiro de chocolate dele estava pregado no meu corpo abalado.
Cheguei em casa pálida e deitei na minha cama, e comecei a olhar pro teto e chorei. Foi a primeira vez que eu senti aquilo, aquela dorzinha aguda que nunca tinha sentido antes, que me deixava nauseada e excitada. Me senti uma vadia suja e uma mulher apaixonada, foi naquele dia que eu descobri o que era a maldita paixão de merda.
Aquele dia me mudou.
Faltei dois dias. Disse pra minha mãe que estava doente, ela acreditou. Mas depois eu não pude mais correr, eu sabia que teria de ir e enfrentar sozinha aquilo.
Cheguei na sala e fui direto pra Jussara, contar tudo o que tinha acontecido, ela me ouviu com cuidado e disse que manteria esse segredo.
Aham.
Não sei bem o que levou a Jussara fazer o que ela fez, mas a vagabunda contou tudo pra todo mundo da escola, e todas as vezes que ela contava, aumentava. Eu quis socar a cara daquela infeliz e quebrar todos os dentes da boca dela, mas me mantive quieta, sem dizer nada.
Como minha cidade era pequena, em poucos dias todo mundo sabia do meu "segredinho", isso me deixou puta de raiva, todos os malditos lugares que eu ia, tinha alguém me olhando com cara de curiosidade, isso me matava. E é claro, que não demorou muito pros meus pais e meus irmãos descobrirem a história toda.
Meu irmão mais velho queria matar o garoto lá, que esqueci de dizer que ele se chama Miguel, minha mãe que não deixou. Meu pai no dia que descobriu, foi na minha escola, me buscou e me deu uma surra que eu nunca mais esqueci. Minha mãe não, ficou calada o tempo inteiro e não me disse uma palavra se quer, mas ela conseguia fazer aquela cara de tristeza que me torturava. Eu preferiria mil vezes que ela fizesse o que o meu pai fez do que ficar com aquela cara de dor.
Um dia o clima lá em casa pesou tanto, que eu tive que sair, era junho e fazia muito frio, lembro bem, peguei um casaco, e saí, sentei em uma praça e fiquei por lá por horas, olhando pro nada e me sentindo a pessoa mais desprezível do mundo.
Quando de repente quem senta do meu lado? Se disseram Miguel, vocês realmente são boas nisso. Ele me deu um capacete, e me intimou para ir em algum lugar com ele.
Eu não pensei muito, só sei que eu disse: foda-se, peguei o capacete e disse como num suplício, me tira logo daqui.
E foi isso que ele fez.
Isabela Teodoro
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