Um rosto comum, com formas definidas e um olhar inocente. Tinha quinze anos, não tinha rosto e corpo de modelo, e nem tinha cabelos lisos compridos e brilhantes, não chegava a medir 1.67 . Não gostava de bebidas, repudiava o cigarro, e drogas? Nem pensar. Não era fã dos beatles, e muito menos Rolling Stones. Não tinha uma cultura muito vasta e não conhecia nenhum país além do seu. Os pais não a olhavam, suas notas boas não eram o suficiente, eles só viam seu grande e idiota irmão, um problemático que deixava sua mãe chorando todas as noites por não encontrar uma solução para ele. Essa era a inocente menina, que se sentia isolada de todos ao seu redor, que tinha a mente mais complexa existente. Que procurava em cada detalhe possível um motivo por ela existir. Se perguntava porque não podia voar, para bem longe de onde ela estava, para bem longe daqueles olhos que a olhavam com indiferença.
Foi ai que um olhar inocente se tornou um olhar diferente. Ela conheceu um sentimento, que incrivelmente é mais complexa que sua mente. Ela conheceu o amor. E foi o que conseguiu acabar de vez com os sentimentos que ela ainda tinha. Conheceu as bebidas, conheceu o cigarro, ouviu rock'n roll. Pintou as unhas de preto, passou lápis nos olhos que a deixavam com um ar de mais velha. Usava all stars brancos, calça jeans e uma blusa com desenhos estranhos. Começou a ficar confusa, sua vida agora era uma vida de verdade. Ela viu coisas, ela conheceu coisas, que antes, não imaginava que se quer existiam. A garotinha cresceu, e com isso, aprendeu como são as coisas na vida real. Saiu do seu mundinho de fantasias, que havia criado para se deslocar do mundo que a repudiava. Dessa vez ela estava cara a cara com a verdade. Ela viu o que é sofrer. Ela conheceu o mundo da hipocrisia, da falsidade, e o pior de tudo, dos grupinhos sociais. Ela viu o que é ser humilhada, e sentiu na pele o que é viver em um lugar onde todos sorriem com vontade de chorar. Máscaras por todos os lados. E sabe o que ela fez? Ela escreveu. E descontou nas palavras, tudo o que não podia descontar nas pessoas. Bem vindo ao meu mundo.
Márcia Kissia Rosa.
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